Samuel Alves sempre soube que queria ter o seu próprio negócio mas a escolha da área só surgiu mais tarde. Trabalhou em hotelaria, restauração, cortiça, até chegar ao mundo dos cabelos, tendo feito um curso de cabeleireiro e trabalhado durante um ano num espaço em Lobão, enquanto não encontrou o sítio onde assentou raízes. Um dia de chuva, passou por aquela que é agora a Barber Shop by Samuel Alves, em Santa Maria da Feira, e mal viu o espaço ainda em construção, soube logo que o seu futuro na barbearia estava ali.
Tens de ser bom profissional, mas se não ganhares uma carteira de clientes sólida, não consegues.
“Todos os barbeiros têm uma história”, começa Samuel Alves, proprietário orgulhoso de uma barbearia estilo vintage em Santa Maria da Feira. A história dele começa bem atrás, ainda estudante da antiga Escola de Hotelaria e Turismo de Santa Maria da Feira. “Já na altura sabia que queria ter algo meu, mas não sabia o quê”, conta. Trabalhou oito anos na área da hotelaria e restauração, dois deles num hotel na Suíça. “Na área da restauração em Portugal não há grandes oportunidades para evoluir”, diz. Quando regressou ao país natal, dividiu-se entre trabalhos que “pagassem as contas”, até que a ex-namorada lhe fez a surpresa de o inscrever num curso de cabeleireiro. “A área da barbearia fascinava-me, tinha curiosidade, ia a barbeiros diferentes para conhecer”, conta.
O curso durou oito meses e no exame final os estudantes tinham de prestar provas frente a um júri de dez conceituados profissionais da área. Entre eles, duas cabeleireiras acabaram por disputar Samuel Alves, tentando convencê-lo a juntar-se à equipa dos espaços que geriam, mas foi Carla Tavares, uma cabeleireira de Lobão, que “venceu” e levou o “único rapaz da turma” para trabalhar consigo. “Trabalhei com ela durante um ano, a acordar às 4h/5h para fazer penteados de noiva”, lembra. Nesse tempo, a área da barbearia começa a ganhar projeção e Samuel Alves aponta o exacto momento em que o seu futuro como empreendedor começou a ganhar forma. “Um dia a chover, passei aqui e esta loja estava em construção. Disse para mim mesmo “tenho de parar e ver”. Comecei logo a imaginar onde ficariam as coisas, era ideal para barbearia. Falei com o responsável e ficou apalavrado”, refere.
“Cortava cabelos de manhã à noite para ganhar dinheiro”
Desde que contratualizou o espaço, começou imediatamente a projectar e decorar até que finalmente abriu a barbearia num percurso que demorou apenas seis meses. Durante o processo, contou com a ajuda da ALPE – Agência Local em Prol do Emprego. “Ajudaram a nível de dicas e ferramentas para o início de um negócio”, afirma. Foi o primeiro a abrir loja naquele prédio e não foi preciso batalhar muito para arranjar clientes. “Abri no Verão, no dia 11 de Junho, na altura em que vêm os emigrantes e tive logo filas à porta. Cortava cabelos de manhã à noite para ganhar dinheiro”, recorda. Passada a fase da “novidade”, o mais difícil foi consolidar a reputação e assegurar a recomendação boca-a-boca. “O barbeiro é como o médico. Se vêm uma vez e gostam, normalmente não trocam”, diz.
Mais do que um bom profissional, Samuel Alves salienta que para ter sucesso é preciso “arranjar o maior número de contactos possível. Claro que tens de fazer um bom trabalho, mas se não ganhares uma carteira de clientes sólida, não consegues”, realça. Além disso, na área da barbearia é importante saber ouvir e ser empático. “Funciona como escape para as pessoas. Quando vão ao cabeleireiro ou ao barbeiro querem desabafar, pedir conselhos, cada pessoa chega e conta a sua história e isso é enriquecedor, aquele cliente passa a amigo. Há pessoas que nem vêm para cortar o cabelo, mas para falar”, afirma. Para ele, “apenas 20% é o trabalho do barbeiro, o resto é o ambiente do espaço e a forma como o cliente é tratado”. A verdade é que, cinco anos depois, a Barber Shop by Samuel Alves continua aberta e “cheia de serviço” na cidade de Santa Maria da Feira.
“Percebi que era isto que queria. Em cinco anos, o mundo da barbearia evoluiu muito. Quando comecei, nem se percebia muito bem a diferença entre cabeleireiro e barbeiro”, lembra. Não gosta de ficar parado e está sempre à procura de novas ideias, tendências e sobretudo aprender com os melhores, como o “melhor barbeiro português, João Rocha”, que faz questão de destacar, além de “barbearias conceituadas no Porto e em Lisboa”, ou até internacionais, como uma na Holanda em que “vão pessoas de todo o mundo cortar o cabelo” e tem de se ir para a fila de madrugada assegurar a vez. Os seus clientes, esses, confiam plenamente no seu trabalho e, consoante a faixa etária, deixam-no experimentar os mais diversos penteados. Samuel Alves quer sempre “melhorar a qualidade do seu serviço” mas no meio de tantas inovações, não esquece a sabedoria de quem já trabalha na área há muitos anos. “Para estarmos numa área, temos de saber tudo sobre ela. Muita gente foca-se nas inovações e esquecem-se da tradição, dos barbeiros antigos que fazem corte à navalha. Os mais novos não sabem fazer e há clientes que ainda chegam e pedem e nós temos de saber fazer”, salienta.