Diloupharma
“Quando sabemos aquilo que queremos, conseguimos fazer a gestão e a adaptação"
Diana Lourenço é uma empreendedora de mão cheia. De Viseu para Santa Maria da Feira, abriu um negócio, em 2016, numa terra onde não tinha raízes nem grandes conhecimentos. Farmacêutica de formação, investiu na Diloupharma, uma parafarmácia que tem a mais-valia de ter alguém à frente dela com estudo e experiência na área da saúde. Ao longo dos anos, precisou de fazer alguns ajustes, atenta à procura de mercado, e hoje foca essencialmente a venda em suplementos alimentares e óleos essenciais e outros serviços como a aromaterapia e a fitoterapia.
“Três motivos que me levaram a abrir negócio próprio nesta área”, começa Diana Lourenço, enumerando: “Primeiro, sou farmacêutica; segundo, tinha acabado de ser mãe e era difícil arranjar trabalho porque o tecido empresarial não vê com bons olhos as recém-mamãs; e terceiro, queria um projeto meu, em que tivesse liberdade para orientar o negócio, em termos de atendimento e aconselhamento às pessoas, sem pressão de timings e de resultados”. A liberdade de escolha profissional soou-lhe extremamente apelativa e procurou, em 2016, a ALPE para auxílio na elaboração do plano de negócios que serviria de base para a candidatura ao Instituto de Emprego e Formação Profissional relativa à antecipação do subsídio de desemprego. “A ALPE ajudou-me a delinear e conceber todo o projeto”, refere.
Os primeiros anos, contudo, foram “muito difíceis. Eu não sou de Santa Maria da Feira, não era conhecida, e a parte da divulgação do negócio foi extremamente complicada. A parafarmácia era um conceito novo na altura e as pessoas não viam farmacêuticos nestes espaços, logo ficavam espantadas quando me descobriam. Eram muitas contas para pagar, dias sem clientes, caixa vazio, é preciso ter perseverança e paciência para continuar a trabalhar. Tem sido um caminho e tenho mudado o negócio ao longo do tempo, consoante as necessidades da sociedade”, revela. As mudanças prenderam-se, sobretudo, com o conceito da Diloupharma. “Inicialmente, abri a parafarmácia com um conceito convencional, mais vocacionado para medicamentos e dermocosmética, mas atualmente tenho maioritariamente suplementos alimentares e óleos essenciais, trabalho com fitoterapia, aromaterapia, homeopatia. Fiz formações mais aprofundadas nessas áreas porque temos de estar sempre a estudar para proporcionar um serviço de qualidade”, explica.
A decisão de transformar o espaço baseou-se na impossibilidade de concorrer com as grandes superfícies. “Era uma lacuna no mercado aqui na Feira e uma área de grande interesse para mim e, sejamos sinceros, não conseguia concorrer com as grandes superfícies porque não consigo combater o preço que elas fazem. Não compro aos milhares e ninguém me dava as condições de preços de custo que dão a esses espaços. Tive de procurar outros laboratórios que não trabalhassem com as grandes superfícies”, conta. Uma empreendedora que não se deixou abater apesar de não ter uma rede de suporte que servisse de exemplo. “Não tenho historial de pessoas empreendedoras à minha volta, sou a primeira pessoa da família a ter negócio próprio, por isso não tinha noção da realidade, nem estava preparada para ela. Pensava que bastava ter conhecimento na área para vingar, mas o factor-chave é como chegamos às pessoas”, frisa. A “teimosia”, como lhe chama, foi o combustível que manteve o motor a trabalhar. “Sou natural de Viseu e não ter raízes cá dificulta, numa fase inicial os amigos ajudam a passar a palavra e eu não tive nada disso e não tinha suporte familiar que me ajudasse em termos emocionais para ter resiliência, pelo contrário, diziam-me para fechar. Mas eu não desisto à primeira, sou teimosa e só fecho depois de experimentar todas as opções”, afirma.
As coisas foram melhorando, o negócio foi crescendo e hoje tem pessoas que vêm de longe só para se “aconselharem” com ela. “As pessoas começaram a entrar, a conhecer-me, a referenciar-me aqui na zona, porque tenho duas grandes mais-valias face a outras casas. Tenho sempre disponibilidade para aconselhar, enquanto os outros colegas estão controlados em termos de timing e despacham; e sou farmacêutica, enquanto as pessoas que trabalham nas restantes parafarmácias de Santa Maria da Feira não têm a mesma formação do que eu. Eu tenho conhecimento dos medicamentos e das interações e as outras não sabem, já me apareceram aqui pessoas que compraram lá produtos e tiveram efeitos secundários porque ninguém as aconselhou. Uma coisa é ter as coisas para vender, outra coisa é perceber como funcionam”, salienta. Além da venda de produtos físicos, Diana Lourenço também dá formações on-line na área da aromaterapia. “Temos de ouvir o mercado e hoje em dia o on-line é muito forte. Eu tive de aprender a funcionar com tudo isso, plataformas, marketing, publicidade, design, tenho um mundo de conhecimento dentro de mim”, brinca.
A única funcionária a tempo inteiro na loja – “sou só eu” – porque a verdade é que os clientes só querem aconselhar-se com ela. “Já pensei em pôr aqui alguém, mas as pessoas chegam, não me vêem e ficam desiludidas”, afirma. Como vantagens de ter um negócio próprio, destaca a gestão de horários e o “não depender de ninguém”, embora nunca se tem o descanso que outros trabalhadores têm. “Não tiramos 22 dias de férias, quando muito temos uma semana”, refere. Como conselhos para futuros empreendedores, diz que, acima de tudo, é preciso “criar um bom plano de negócios e ter uma estratégia delineada, com custos, objetivos de faturação, uma boa rede de publicidade, porque a parte da divulgação é essencial. Quando sabemos aquilo que queremos, conseguimos fazer a gestão e a adaptação”, afirma, acrescentando que um dos grandes segredos é “conhecer o cliente. Não conseguimos abraçar toda a gente, é o maior erro que as pessoas fazem, não direccionam. Conhece o tipo de cliente que queres porque toda a tua estratégia vai ser para ele”, frisa.