Há poucas histórias tão inspiradoras como a de Lídia Alves. Aos 48 anos, fica desempregada, depois de duas décadas a trabalhar no negócio da importação/exportação. O IEFP arranja-lhe um trabalho na área da energia, mas renovação após renovação, não a queriam colocar efetiva. Aos 50 anos, e com o conhecimento que ganhou numa área em que nunca previu entrar, decide lançar-se por conta própria. Hoje, faz atendimentos personalizados para ajudar as pessoas a poupar nas suas faturas de energia e seguros e trabalha com as maiores empresas dos setores.
“Trabalhei mais de 20 anos ao lado do meu ex-marido na importação/exportação. Aos 48 anos, fiquei desempregada e estava numa situação precária. Foi literalmente um começar do zero. O Instituto de Emprego e Formação Profissional arranjou-me um emprego em part-time na área da energia. Não tinha qualquer conhecimento, mas a verdade é que o meu contrato de três meses acabou por ser renovado três vezes”, conta Lídia Alves, sobre um percurso que começou atribulado, mas acabaria por dar bons frutos.
A indisponibilidade da empresa onde estava para a colocar em regime efetivo levou a que, aos 50 anos, se visse novamente confrontada com a falta de trabalho. “Com 50 anos, ninguém me dava emprego, então decidi continuar na área da energia e comecei a contactar empresas para propor fazer análises e conseguir contratos em troca de comissão. A Iberdrola foi o meu primeiro cliente, mas hoje trabalho com uma lista enorme que também inclui EDP, Endesa, Gold Energy, Plenitude, MEO Energias, etc.”, enumera.
Desde então, passaram-se dez anos e agora, além da energia, abarcou ainda a área dos seguros. “O que faço é um atendimento personalizado e gratuito em que peço à pessoa para analisar a sua fatura e vejo se precisa de painéis solares, se precisa de alterar a potência, e tento melhorar o preço que está a pagar”, explica. Cada cliente tem uma situação diferente e essa foi uma das maiores dificuldades no início do negócio. “Eram tantas perguntas, tantas divergências, perguntavam-me ‘porque é que o meu vizinho paga menos?’, o atendimento ao público foi um desafio”, refere.
Uma entrada no empreendedorismo que foi apoiada pela ALPE que “deu força para continuar quando não sabia que passos tomar”. Começou com porta a porta a procurar clientes, mas hoje a rede constrói-se sozinha através de recomendações dos seus serviços de clientes que ficaram satisfeitos.
A empreendedora frisa que embora existam plataformas on-line que fazem um trabalho parecido, não há comparação entre “uma máquina e um ser humano” a fazer uma análise detalhada à situação do cliente. Desde 2020, faz deste trabalho o seu ganha-pão a tempo inteiro e só tem pena de não ter “começado mais cedo” no empreendedorismo. “Trabalhas quando queres, o tempo é gerido por ti, posso ir para a praia trabalhar, trazer o meu tablet e o meu livro, vou analisando as faturas e aproveitando os momentos livres para relaxar. Trabalho onde quiser, é a melhor coisa”, diz, com entusiasmo. Além disso, outra grande vantagem é “quando trabalhamos para um chefe, ganhamos x, mas como empreendedores, ganhamos o que queremos, está nas nossas mãos”. A principal dificuldade é o domínio da língua portuguesa, tendo vivido muitos anos enquanto criança e adolescente na África do Sul, mas “já não usa isso como desculpa. O português não é tão bom, mas continuo a lutar, a fazer o trabalho e a entregar”, frisa.
Acredita que nunca é tarde para começar algo novo – “ninguém emprega com 50 anos, então é uma boa altura de as pessoas se dedicarem a si próprias e ganhar o seu pão” – e de vez em quando conta com a ajuda da filha no negócio que assim vai interiorizando conhecimento sobre o mundo da mãe. Para futuros empreendedores, deixa a dica: “Não tenham medo. Sei que o início é difícil, existem muitos obstáculos. Lembro-me quando os painéis solares apareceram, eu não sabia como vendê-los, mas depois vi que a EDP Comercial tem um curso e foi assim que fiquei a conhecer as estruturas e também os produtos, assim consigo analisar se é bom para o cliente. Há muitas soluções para um cliente, tem de se estudar. No início tudo custa, a falta de conhecimento abala, mas a longo prazo tudo isso faz-nos mais fortes”.