Curious Minds
A vontade de fazer a diferença na forma como olhamos para as crianças.
Vânia Castro tem uma paixão pela Educação que transparece na forma como nos apresenta o espaço que idealizou e construiu. Mostra-nos cada sala com o entusiasmo de alguém que finalmente tirou um projeto de sonho da gaveta e hoje dá a sua contribuição ao mundo através de programas e atividades que acredita gerarão melhores adultos. Neste jardim-de-infância bilingue, a empreendedora suspira de alívio por já ter pequenos sorrisos a preencher o espaço, mas as ambições são grandes e nos planos de médio prazo começa a incluir o objetivo de adicionar também o 1.º ciclo.
Na bagagem curricular, conta com muitos espaços onde pôde exercer tanto a função de educadora – “a grande paixão” – como cargos de chefia, em que aprendeu a liderar grandes equipas. Nenhum deles, contudo, a preencheu, seja porque a obrigavam a escolher entre apenas uma daquelas capas, seja porque “não estava satisfeita com a pedagogia utilizada. O trabalho não dava margem para fazer o que eu achava que devia ser feito, achei que estava na altura de ter o meu projeto”, revela. Assim, começou a desenhar-se na cabeça de Vânia Castro, natural de Marco de Canaveses, mas a viver em Santa Maria da Feira por causa do namorado, uma nova resposta que mudasse “a forma como olhamos para as crianças”.
Tudo se processou bastante rápido. A empreendedora mudou-se para o concelho em 2020, ficou desempregada em 2021 e em setembro do ano passado já estava a abrir as portas do Curious Minds. Oito meses de intensas obras e burocracias, muitos obstáculos e contratempos, mas a meta final foi atingida. Um processo facilitado pela Agência Local em Prol do Emprego, a que Vânia Castro recorreu, aconselhada pelo banco parceiro do projeto, para obter alguma orientação neste caminho do empreendedorismo. “Se soubesse o que sei hoje, tinha tirado um curso sobre Contabilidade e Gestão de Empresas. Andei a bater com a cabeça nas paredes porque ninguém nos ensina nisto, e também é algo que estou a pensar trazer para o meu próprio projeto”, diz, levantando o véu sobre as ideias que não param de fervilhar.
Pais agradecidos por poderem estar mais presentes na educação dos filhos
A Curious Minds está localizada na entrada de Santa Maria da Feira, junto a uma das principais avenidas, num espaço que antes já era uma escola, mas que foi completamente renovada e adaptada à nova filosofia. “O projeto inicial não foi aceite pela DREN [Direção Regional de Educação do Norte], tivemos de fazer um projeto de arquitetura e o projeto do banco só foi aprovado depois disso, eram timings muito apertados. Este foi o terceiro espaço que apresentei à DREN, a legislação é muito apertada e tem de estar tudo direitinho”, conta Vânia Castro, sobre o processo extenuante. O trabalho, claro, compensou, porque apesar dos atrasos nas autorizações e da abertura tardia, já conta com uma dezena de crianças (e pais) felizes com a metodologia de ensino oferecida. “Os pais sentem-se muito agradecidos por terem a oportunidade de entrar na escola, deixar o filho sem que ele fique a chorar, participar em atividades como os ateliês Reggio Emilia, que acontecem todas as quintas-feiras de manhã. Acreditamos que pais e professores têm de estar alinhados e fazer um trabalho em conjunto no que concerne à educação da criança”, explica.
As vantagens que este projeto educativo oferece, garante Vânia Castro, vão desde o espaço, o horário (7h30-19h30), o transporte, a ligação pais-escola, a adaptação às necessidades de cada criança e a introdução do inglês. “As crianças têm 2h de inglês todos os dias com uma professora nativa da língua. Preparamos os meninos para Cambridge, os recursos materiais que usamos são do exame dos Starters. Em vez de fazerem o exame no 4.º ano, como habitual, fazem no 1.º/2.º ano”, afirma. Mas a grande diferença está na preocupação com o desenvolvimento equilibrado da criança. “Damos prioridade às relações afetivas, a ganharem autonomia, a formar crianças resilientes, capazes de gerir emoções, que sejam empáticas com quem está à volta, sensíveis, já vemos um grande espírito de entreajuda entre elas”, diz, orgulhosa, lembrando que a sociedade foi deixando estes valores de lado. “É a base para as crianças estarem bem e aqui apostamos nisso”, refere.
Em todo este caminho, contou sempre com muito apoio. O namorado e a sogra ajudam-na no projeto, os investidores começaram a aparecer mal apresentou a ideia e até a equipa que escolheu para trabalhar consigo está 100% envolvida no espírito Curious Minds. “Eu sabia o que queria fazer em termos pedagógicos e acreditaram em mim e no projeto, viram potencial, era diferente. Só existe algo com estas linhas no Porto ou em Lisboa. Mas por muito boa vontade que as pessoas tenham, o projeto há-de ser sempre meu, tenho de estar atenta a tudo, a responsabilidade é minha. Confiar, mas olhar sempre”, afirma. A médio prazo, ambiciona um espaço próprio e maior que também acolha o 1.º ciclo. “Os pais têm insistido porque não conhecem outro sítio que dê continuidade ao que está a ser feito aqui e não querem perder o trabalho”, revela.